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O difícil caminho para importar adubo russo

abr, 04, 2022 Postado porSylvia Schandert

Semana202214

Pouco mais de um mês depois do início da guerra na Ucrânia, e da divulgação de sanções que amarram o sistema financeiro e outros agentes econômicos da Rússia, importadores de adubo russo têm conseguido realizar os pagamentos a partir do Brasil, mas o caminho está mais tortuoso. O imbróglio internacional se reflete no fechamento de operações de câmbio, que atualmente estão mais demoradas do que o normal – e também mais caras.

Se antes do conflito essas operações custavam perto de zero para um importador de grandes volumes, hoje chegam à faixa entre 0,2% a 0,5% do valor total dessas compras, apurou o Valor. Uma importação de adubos movimenta alguns milhões de dólares. “O custo da operação financeira não escalou como o preço do próprio fertilizante, mas [a variação] dói no bolso”, disse um agente do mercado financeiro.

Para se ter ideia dos efeitos da guerra sobre os preços do adubo russo, a escalada chega perto de 40% sobre a tonelada adquirida no mercado internacional, informa um estudo divulgado em 30 de março pelo Rabobank. Só a ureia, o nitrogenado mais usado pelo agricultor brasileiro, teve alta de 75%, para US$ 965 a tonelada (preço no porto, no Brasil).

O processo para fechar o câmbio normalmente já conta com a realização de checagem relacionada aos envolvidos – se constam em listas restritivas de comércio -, e envolve o compliance de cada instituição financeira. As principais listas são da ONU, da União Europeia e da Agência de Controle de Ativos Estrangeiros americana (Ofac, em inglês). Em um contexto normal, as operações levam algumas horas.

Prazo mais longo
Com a guerra, e os embargos, boa parte das transações que envolvem a Rússia sai no dia seguinte, mas há casos em que levam até três dias, conta Carlos Eduardo de Andrade Jr., diretor executivo do banco BS2.

“As sanções têm um target muito específico. Então, o cenário é: com os bancos retirados do Swift é impossível fazer operações – ou eu desconheço uma forma de realizá-las”, diz Andrade. O mesmo vale para outras empresas e indivíduos russos citados nas listas de restrições americanas e europeias.

Bancos retirados do Swift, o sistema internacional privado de comunicação bancária, praticamente deixam de existir fora de seu país. Por meio dessa estrutura, as instituições financeiras enviam pagamentos ao destino e, via de regra, há bancos intermediários “no caminho” – geralmente americanos ou europeus.

São as instituições que conservam os recursos em moeda forte – dólar ou euro – até que a operação seja completada. Em um cenário de sanções, os departamentos de compliance dos bancos podem ser até mais rigorosos do que os governos, visando resguardar clientes de represálias e a sua própria reputação, lembra Carlos Portugal Gouvêa, sócio do PGLaw. O advogado diz que já houve tentativa de criar um “Swift paralelo” pelo governo chinês, mas que, por ora, ainda não rendeu frutos.

Os maiores bancos russos estão sob restrições. Mas ainda tem sido possível comprar adubos da Rússia porque há bancos e empresas exportadoras daquele país que estão fora do alcance das sanções estabelecidas. “As sanções americanas são estratégicas, e permitem uma escalada. Em princípio, o governo americano tirou cerca de 30% do oxigênio do sistema bancário russo”, comentou Gouvêa.

Lista restrita
Devido à guerra, a UE incluiu os donos de três grandes fornecedoras russas de adubos, UralChem / Uralkali, EuroChem e PhosAgro em uma lista restritiva, mas como pessoas físicas. Como isso cria possibilidade de o compliance de empresas compradoras de adubos e de bancos barrarem negócios, os empresários se afastaram dos cargos de comando, na tentativa de evitar danos às companhias.

Com empresas de adubos fora de listas de embargos, e caminhos alternativos a percorrer no sistema bancário, o BS2 tem conseguido fechar câmbio em operações de compras de fertilizantes da Rússia junto a seus correspondentes bancários na UE e EUA. Cada um definiu o seu pacote de regras, além das diretrizes dos governos. Com isso, tem sido gasto mais tempo no processo – e é uma das razões para o encarecimento das operações financeiras. “Mas há também a oportunidade mercadológica. O compliance de cada bancos mensura o risco e inclui na margem”, disse outro agente financeiro.

Pior do que está não fica?
Uma resolução da Agência de Controle de Ativos Estrangeiros (Ofac), do Tesouro americano, publicada no dia 24 deste mês, liberou o comércio de fertilizantes – entre outros itens, como commodities – do alcance das sanções impostas pelos EUA à Rússia devido à guerra na Ucrânia. O documento levou a interpretações distintas e movimentou esse mercado. Para alguns agentes, a norma não tem forte efeito prático, já que não havia sanção proibitiva direcionada ao segmento.

Porém, há quem entenda que, se antes não havia regra explícita sobre comércio de adubo russo – o que abria brecha para qualquer entendimento -, agora fica claro que não há restrição. “É um cenário menos pior para quem negocia”, avaliou o diretor executivo do BS2, Carlos Eduardo Andrade Jr., inclinado a concordar com a segunda leitura. A norma poderá contribuir com a melhor fluidez das operações financeiras, mas ele não vê efeito rápido. Na prática, agora, mais importante do que o tema de pagamentos é a entrega de fertilizantes da Rússia, prejudicada por questões logísticas, diz Marcelo Mello, da StoneX.

Fonte: Valor Econômico

Para ler o artigo original completo, acesse:

https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2022/04/04/o-dificil-caminho-para-importar-adubo-russo.ghtml

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