Pre-salt auction in Campos basin - Petrobras Offshore Field
Petróleo e Gás

Salto da produção de petróleo consolida o Brasil na exportação

out, 31, 2023 Postado porGabriel Malheiros

Semana202344

A produção brasileira de petróleo terá um salto nos próximos anos, para atingir um novo pico no final da década, consolidando o Brasil entre os grandes produtores da commodity. O cálculo é de que em seis anos o volume alcançará 5,1 milhões de barris diários, alta de 50% ante a marca atual, o que deve empurrar o país da nona para a quinta colocação global.

Um dos efeitos diretos, segundo especialistas, é que a indústria de petróleo seguirá com um papel relevante nas contas públicas, diante de um pano de fundo de valorização do óleo dado o contexto geopolítico. Do lado da indústria, a leitura mais recente é de que a demanda por óleo fóssil seguirá aquecida nos próximos anos, a despeito das discussões sobre a transição energética.

No mesmo período, a exportação brasileira de petróleo bruto, se confirmadas as estimativas, poderá registrar um crescimento de 120%, para 2,9 milhões de barris por dia. Apesar disso, o declínio começará já na virada da década, o que vem pressionando o setor para a exploração de novas áreas.

As projeções são da gestora Kinea, do grupo Itaú – em estudo exclusivo passado ao Valor. E de acordo com o estudo, após o pico da produção, os volumes passarão por um declínio, tendo em vista a maturidade dos campos explorados hoje, inclusive do pré-sal. A análise considera os campos que já estão hoje em produção ou já mapeados. Como consequência, o volume deve cair a 4,8 milhões de barris por dia em 2030, ainda de acordo com o cálculo da gestora.

O estudo da Kinea lembra que a produção brasileira de petróleo avançou 50% na última década, passando de 2 milhões para 3 milhões de barris/dia, na esteira da descoberta do pré-sal. Nessa nova onda de expansão, o aumento da produção veio essencialmente fora da Petrobras, incluindo grupos estrangeiros como Total e Equinor, mas também as independentes que surgiram no mercado nos últimos anos, depois que a estatal vendeu campos mais maduros. Nesse grupo também estão as chamadas “junior oils” – Prio, PetroReconcavo, Enauta, 3R e Seacreast.

A produção da Petrobras também cresce, não na mesma proporção que as independentes. A estatal atingiu marca recorde de 3,98 milhões de barris de óleo equivalente por dia no terceiro trimestre do ano, alta de 7,8% na comparação trimestral.

Os aportes também justificam o momento. Até o final da década, o setor receberá investimentos da ordem de US$ 200 bilhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), o que vai ajudar o país a subir no ranking entre os maiores produtores globais. Também refletindo a posição externa do Brasil, no ano passado, as exportações de óleo bruto e petróleo chegaram em US$ 42,5 bilhões, um recorde, fazendo com que esse item subisse para a segunda posição de produto mais vendido ao exterior, somente atrás da soja.

No entanto, segundo o presidente do IBP, Roberto Ardenghy, os principais campos do país – o de Santos (SP) e o Campos (RJ) – regiões onde se concentram aproximadamente 80% da produção nacional, entrarão em declínio. “Temos de continuar a exploração para manter o nível de reservas. Aí que vem a discussão da Margem Equatorial para substituição dos campos que entrarão em declínio”, afirma o executivo.

O analista da Kinea, Antonio Zacharias, aponta que há anos observa a produção global de petróleo e o crescimento da produção brasileira mais recente chamou sua atenção. “Eu não costumava ter surpresa em relação ao Brasil”, diz.

Zacharias diz que o momento é propício para o aumento da produção local de petróleo, tendo em vista que, além dos preços elevados, a narrativa sobre a transição de combustíveis fósseis para energia limpa mudou após a Guerra da Ucrânia, mirando dessa vez o discurso de “energy security”, ou seja, de segurança energética.

Ardenghy, do IBP, aponta que a demanda mundial por energia vai seguir crescendo e que o Brasil estará bem posicionado para suprir um mercado que já começou a surgir pelo óleo com baixo teor de carbono, algo que já vem sendo notado por consumidores europeus. Ao contrário do Brasil, outros grandes produtores como Canadá e Venezuela registram maior emissão na produção. “O baixo teor de carbono será precificado a partir de agora e o Brasil tem condições de ter uma indústria bem ativa até 2070, 2080 por conta da característica do nosso petróleo.”

O professor da FGV Energia, João Vitor Marques, afirma que outro ponto positivo ao Brasil se dá pela “geopolítica do petróleo”. “O Brasil é um produtor confiável, em região pacífica. Se torna beneficiado pela conjuntura estável e com uma fronteira explorada provada é reconhecida”, diz o especialista. Ele lembra que, se excluída a região produtora que integra a OPEP no biênio de 2022 e 2023, os Estados Unidos e Brasil vão liderar a produção mundial de petróleo.

A Kinea destaca, ainda, que o futuro do petróleo, ao contrário do que se vê pelo retrovisor, está no Norte do país e não mais no Sul, exatamente onde está localizada a Margem Equatorial.

Marques, da FGV, aponta que existe na média um prazo de sete anos para que um poço comece a produzir e que manter a produção seria o desafio no Brasil para a próxima década. Segundo ele, além da busca de novas fronteiras de exploração, outro caminho a ser trilhado é aumentar a taxa de recuperar dos campos já existentes, e que nesse processo as petroleiras menores podem ajudar.

Na PetroReconcavo, que opera campos maduros terrestres (“onshore”), uma boa parte do incremento da produção da companhia será por meio de recuperação da reserva, explicou Marcelo Cruvinel, gerente de relações com os investidores da companhia, ao Valor. A empresa comprou ativos da Petrobras na Bahia e Rio Grande do Norte.

Temos de continuar a exploração para manter o nível de reservas. Aí que entra a discussão da Margem Equatorial”

A empresa prevê expansão de 28 mil barris por dia para 43 mil diários a partir de 2026, conta Cruvinel. Segundo ele, a estratégia de expansão orgânica permanece firme para extração de petróleo e gás da companhia.

Adriano Pires, sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), vê a Margem Equatorial como a nova fronteira a ser explorada, depois do pré-sal, apesar das polêmicas envolvendo as licenças ambientais.

“Cerca 75% da produção de petróleo no Brasil vêm do pré-sal e o declínio virá em 2030. A Petrobras responde também por 75% da produção. O restante está com as ‘junior oils’”, lembra Pires.

Na exploração, contudo, Pires diz que as “juniors oils” não assumem risco, uma vez que só compram campos que já estão produzindo petróleo. Com o movimento mais nacionalista da Petrobras, com a troca de governo, o sócio do CBIE vê um potencial movimento de consolidação dessas companhias, uma vez que a petroleira nacional deixou claro que não quer se desfazer de ativos.

A estatal desistiu da venda do Polo Bahia Terra, conjunto de campos terrestres de óleo e gás que estava em negociações com o consórcio PetroReconcavo/Eneva, além do Polo de Urucu (AM), que tinha a Eneva como interessada. “Dado o fato que comprar novos campos é difícil, o mercado vê movimento de fusões e aquisições entre as empresas onshore no radar.”

Hoje há 48 empresas atuando na exploração de petróleo no Brasil, segundo dados do IBP. A leitura é de que uma combinação de preços altos da commodity somada a uma necessidade de escala de produção leve a uma onda de fusões e aquisições no setor.

Essa dinâmica positiva para o petróleo tem dado um impulso para as contas públicas. Um peso pesado na balança comercial brasileira, a estimativa da Kinea é de que em 2030 a arrecadação com extração de petróleo e gás natural alcance 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB). “Essa não será uma bala de prata e o governo precisará continuar fazendo seu ajuste fiscal”, afirma a economista da Kinea, Daniela Lima.

Lima lembra que o desempenho de 2022, quando o setor extrativo foi responsável por 2,6% do PIB, não deve se repetir, visto que o salto teve por trás principalmente a distribuição recorde de dividendos pela Petrobras. Apesar disso, o aumento de produção ao longo dos próximos anos sustentará o aumento da arrecadação.

Para a economista, apesar de o Brasil ser exportador de petróleo, o país depende da importação de combustíveis, algo que deve permanecer nos próximos anos, visto que não há sinalização sobre interesse para investimentos em refinarias. Olhando para frente, a economista aponta que o consumo de combustíveis por aqui seguirá em trajetória ascendente, seguindo o crescimento do PIB.

Fonte: Valor Econômico

Clique aqui para acessar a matéria original: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/10/30/salto-da-producao-de-petroleo-consolida-o-brasil-na-exportacao.ghtml

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