Portos e Terminais

Powershoring é opção sustentável de desenvolvimento para o Porto de Santos

set, 12, 2023 Postado porSylvia Schandert

Semana202337

A América Latina, o Brasil e, em especial, o Porto de Santos estão na rota do powershoring. É o termo que se refere à atração de plantas industriais alimentadas por energia limpa. Ou seja, proveniente de fontes renováveis – como hídrica, eólica, solar e biomassa – em países onde elas são abundantes.

“O powershoring representa uma grande janela de oportunidade para o Brasil e é uma estratégia que pode ser decisiva para empresas que são grandes consumidoras de energia, como as indústrias de aço, vidro, fertilizantes, cimento, papel e celulose e cerâmica”, afirma o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Davi Bomtempo.

Segundo ele, “esses e outros setores, que têm sido pressionados pelos custos da energia e pela urgência de descarbonizar a produção, podem encontrar no Brasil um destino seguro para a instalação de suas fábricas”.

Empresas norte-americanas, europeias, japonesas e chinesas, em especial, têm interesse nisso. Antes, a prioridade era a de ter fábricas em regiões com custos mais vantajosos de mão de obra. Agora, a necessidade de descarbonizar a economia para combater o aquecimento do planeta faz com que um dos principais atrativos para a indústria seja a oferta abundante e segura de energia renovável.

Fatores diversos favorecem o Brasil com o powershoring, como a localização privilegiada, distante de regiões com questões geopolíticas complexas e de eventos climáticos extremos, grande variedade de produtos minerais e agrícolas para uso industrial e, claro, a já expressiva presença de multinacionais dos mais variados setores.

“Essa é uma estratégia de localização da produção para exportação. Estamos falando de zonas de produção que estão próximas a portos. Esse é o ideal: zonas de portos, com retroáreas de produção em que chegam energia verde”, afirma o vice-presidente do setor privado no Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF), Jorge Arbache.

“E isso é o que acontece, por exemplo, no Porto de Santos. Boa parte da energia do complexo santista, se não toda, é de rede. E o Porto de Santos pode entrar nessa rota global de investimento direto no Brasil, recebendo grandes investimentos como já tem acontecido. A gente tem documentado isso na região e também no Brasil. E é muito provável que isso vai se acelerar nos próximos anos”, completa o vice-presidente do banco de desenvolvimento.

O gráfico a seguir traz mais detalhes sobre as exportações e importações em contêineres no Porto de Santos entre janeiro de 2019 e julho de 2023. Os dados utilizados a seguir foram coletados pela Datamar por meio da ferramenta de inteligência marítima DataLiner.

Exportações e importações no Porto de Santos | Jan 2019 – Jul 2023 | TEU

Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração

O CAF anunciou recentemente estar em processo de negociação de um repasse de até US$ 600 milhões – como financiamento de linhas de crédito para investimentos em plantas industriais de energia verde – ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ao Banco do Nordeste (BNB). De acordo com Arbache, US$ 500 milhões deverão ser repassados ao BNDES e entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões ao BNB. Foi o CAF, aliás, que cunhou o termo powershoring.

Além do Porto de Santos, Arbache destacou que os complexos de Pecém (CE), Aratu (BA), Suape (PE) e Rio Grande (RS) também combinam a condição de porto multimodal para manufatura com zonas industriais e que chegam com energia verde.

Números e tática

Para se ter uma ideia de como o Brasil é importante nisso, em 2020, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), 82% da matriz energética e 71,4% da matriz elétrica do mundo eram derivadas de fontes não renováveis. Por exemplo: nos Estados Unidos, estes indicadores representam respectivamente 92% e 61%; na China, 90% e 67%; no Reino Unido, 86% e 58%.; e no Brasil, 50,3% e 15,4%.

Dados do Balanço Energético Nacional mostram que as fontes renováveis tiveram uma participação de 47,4% na matriz brasileira, porcentual muito superior à média de 14,1% do mundo. O País, que é o segundo maior produtor de biocombustíveis, atrás apenas dos Estados Unidos, também vem desenvolvendo tecnologias e modelos de negócios inovadores nesta área.

Exemplo disso são os carros híbridos, movidos a etanol ou a eletricidade. Outra iniciativa são as células de combustível que convertem etanol em hidrogênio no posto de gasolina ou no próprio veículo para gerar eletricidade. Está em estudo, ainda, a produção de diesel, querosene de aviação e hidrogênio verde a partir dos óleos de soja, macaúba e dendê.

Para desfrutar desses benefícios, o Porto de Santos e as cidades que o cercam devem se preparar, observa Arbache. “Existe um interesse cada vez maior não é em amor à região, mas em amor à competitividade das próprias empresas que precisam buscar alternativas. Santos tem que se preparar colocando em prática não só uma logística avançada e uma simplificação de procedimentos, mas também temas de capital humano, de infraestrutura, de regulamentação e associados à cadeia de valor”.

Tudo, reforça o representante do CAF, é questão de compreensão do que tem de ser feito. “Quem entender melhor e se preparar vai, provavelmente, estar em uma situação cada vez mais favorável para atrair esses investimentos. Existe, claro, competição entre os países da América Latina, assim como dentro do Brasil. E cada vez mais”, emenda.

É preciso, lembra Arbache, que o complexo portuário santista tenha um olhar estratégico e uma estratégia para recepção desses investimentos.

“Não pode ser uma coisa tipo varejo, isolada. Tem que ter um plano de voo para oferecer para esses investidores cada vez mais em busca de alternativas. Eles estão indo na América Latina para conversar, ouvir e saber o que há de facilidades para que eles aterrissem suas plantas industriais. E o Porto tem que entrar nessa agenda, com uma visão estruturada, de conjunto, integrada. Isso parece simples mas, na verdade, é bastante complexo. E é por aí que tem que ir”.

Fonte: A Tribuna

Para ler a reportagem original, acesse: https://www.atribuna.com.br/noticias/portomar/powershoring-e-opcao-sustentavel-de-desenvolvimento-para-o-porto-de-santos

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