Porto de Imbituba tem sobrecarga de contêineres e empresas vão à Justiça para liberar carga
nov, 21, 2023 Postado porSylvia SchandertSemana202343
O Porto de Imbituba enfrenta uma sobrecarga de contêineres e a situação tem feito empresas acionarem a Justiça para tentar liberar as cargas. O terminal movimenta pouco mais de 2 mil contêineres a cada 15 dias, mas recebeu mais de 7 mil em duas semanas de outubro.
O problema começou por conta das chuvas que atingiram o Estado ao longo do mês de outubro. Com o aumento do nível e da correnteza do Rio Itajaí-Açu, o canal de acesso aos portos de Itajaí e Navegantes foi fechado por 16 dias e a operação dos terminais ficou suspensa. Nesse período, os navios com previsão de chegada a esses locais foram direcionados a portos próximos, como o de Imbituba, no Litoral Sul de Santa Catarina.
O aumento inesperado de contêineres causou dificuldades na operação e tem atrasado a liberação de cargas para importadores. Uma empresa de comércio exterior consultada pela reportagem relatou ainda ter seis contêineres retidos no terminal de Imbituba, alguns deles há um mês. A solução encontrada foi mover ações judiciais para cobrar a liberação das cargas.
No entanto, mesmo com liminares determinando a retirada, a empresa ainda não conseguiu reaver os contêineres. Além disso, está sendo cobrada por valores referentes à armazenagem dos compartimentos nos dias a mais que eles ficam no porto, mesmo com liberação legalmente autorizada.
— O custo da operação de um contêiner nosso em Navegantes é de R$ 1,2 mil, R$ 1,5 mil, dependendo do caso. Em Imbituba, está dando R$ 10 mil, R$ 12 mil por contêiner por conta dessas situações, uma diferença absurda. Fora os ‘efeitos colaterais’, fábricas paradas, quebra de contrato do nosso cliente com o comprador, todos esses custos que a gente até tira da conta porque não tem como mensurar, mas que vão impactar — conta Lucas Bastos Gabriel, coordenador de operações de uma empresa de Blumenau.
A Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) confirmou que as notificações judiciais têm sido uma das saídas aconselhadas para a liberação de cargas retidas no Porto de Imbituba, e que em alguns casos têm sido bem-sucedidas.
Empresa alega que não retirada de cargas causa prejuízo
O Porto de Imbituba é administrado pela SC Parcerias (SCPAR), empresa do governo do Estado, mas a operação do terminal de contêineres é feita por uma empresa privada, a Santos Brasil.
Procurada pela reportagem, a empresa informou que 2,7 mil de um total 5,9 mil contêineres recebidos de forma emergencial em razão do fechamento do porto de Navegantes já foram entregues e retirados pelos clientes.
O número equivale a pouco menos da metade. Segundo a Santos Brasil, a maior dificuldade no momento estaria em cargas que foram disponibilizadas para entrega e agendadas por transportadoras, mas que até o momento não foram retiradas. A situação atingiria cerca de 720 contêineres.
Em nota, a empresa afirmou que isso interfere no fluxo de movimentação de contêineres no pátio. “O Tecon (terminal de contêiner) Imbituba está conseguindo entregar cerca de 120 contêineres por dia, mas esse número poderia ultrapassar os 200 — viabilizando o retorno à normalidade em cerca de 15 dias — caso as cargas liberadas fossem retiradas nas datas programadas pelas transportadoras”, diz um trecho da nota.
A Santos Brasil também alega que precisou aguardar a documentação de nacionalização da carga que estava destinada a Navegantes, o que teria impedido a liberação por cerca de duas semanas após a descarga do navio.
Em uma nota publicada ainda no fim de outubro, a empresa reconheceu as dificuldades de atendimento e liberação das cargas em razão do elevado número de contêineres recebidos. A companhia informou medidas como o funcionamento 24 horas por dia, o reforço com 30 trabalhadores operacionais e de equipes da unidade de Santos (SP). Além disso, a empresa também teria contratado um “pátio de triagem emergencial”, alugado mais equipamentos de movimentação de contêineres e disponibilizado um sistema agendamento que prioriza a entrega dos contêineres mais fáceis de acessar.
— O que mais me entristece é chegar ao terminal todo dia às sete da manhã e não ver carretas para receber as cargas liberadas. Isso é desesperador — afirma o diretor de Planejamento de Operações da Santos Brasil, Marco Antônio de Oliveira.
O presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Cargas e Contêineres de Navegantes e Região, que também atende clientes na região de Imbituba, Vanderlei de Oliveira, confirma que o setor tem dificuldade de absorver a demanda excepcional de compartimentos destinados ao porto do Sul de SC. Um dos motivos é o fato de que nesta época do ano há também um alto fluxo de cargas em Navegantes e Itapoá, onde transportadoras e caminhoneiros estão acostumados a trabalhar.
— Vai ser atendido normal no decorrer do tempo. Não temos um número exato de caminhões disponíveis em cada região, mas enquanto houver esses contêineres a mais em Imbituba, deve demorar um pouco até voltar a normalidade — projeta.
Porto não recebeu mais navios de contêineres
A SCPAR, responsável pela administração do porto, informou em nota estar em contato com a Santos Brasil e com os outros envolvidos para tentar resolver a situação. Segundo a autarquia, ações de fiscalização têm sido realizadas e até mesmo a emissão de notificações à empresa responsável.
A autoridade portuária afirmou também que o cenário excepcional na movimentação de contêineres não tem relação com a capacidade como um todo do porto, que tem 80% da movimentação baseada no embarque e desembarque de produtos graneleiros — e não em contêineres.
O porto não recebeu mais navios de contêineres de linhas internacionais desde 27 de outubro (a administração esclareceu após a publicação que embarcações da linha nacional, a chamada cabotagem, continuam operando). A gestão do terminal informou que “a liberação de contêineres vem evoluindo”, mas segundo empresas do setor contêineres ainda permanecem retidos, o que gera custos adicionais aos importadores.
O gráfico abaixo, desenvolvido com dados DataLiner da Datamar, compara as exportações e importações de contêineres registradas no Porto de Imbituba no período de janeiro de 2019 a setembro de 2023.
Exportação e Importação no Porto de Imbituba | Jan 2019 – Set 2023 | TEU
Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração)
Fiesc cobra “esforço ainda maior” para liberação de cargas
A Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) confirmou as dificuldades enfrentadas na liberação de cargas recebidas no Porto de Imbituba. Em nota, o presidente da entidade, Mario Cezar de Aguiar, disse que é preciso considerar a complexidade da situação, surgida de forma abrupta e de uma demanda imprevisível, mas fez uma alerta: “Entendemos ser essencial o cuidado e empenho para que a indústria não seja prejudicada por impactos negativos nos custos logísticos e na competitividade”, afirmou.
Segundo a entidade, a falta da estrutura adequada para absorver o volume inesperado de cargas já gerou graves problemas operacionais e atrasos na entrega das mercadorias, incluindo matérias-primas importantes para a indústria.
A Fiesc destaca medidas adotadas pela Santos Brasil para tentar contornar a situação, mas informa que pediu à empresa e também à Agência Nacional de Transporte Aquaviário (ANTAQ) um esforço ainda maior para combater os principais problemas enfrentados no momento.
A intenção é obter agilidade nas liberações de cargas, redução nos custos de armazenagem, com a suspensão de cobrança de estadia sobre o período excedente de permanência dos contêineres, e melhoria nos processos de controle e manutenção das cargas.
Fonte: NSC Total
Para ler a reportagem original, acesse: https://www.nsctotal.com.br/noticias/porto-de-imbituba-tem-sobrecarga-de-conteineres-e-empresas-vao-a-justica-para-liberar-carga
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