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Ponte liga Acre por terra e abre caminho para o Pacífico

maio, 10, 2021 Postado porandrew_lorimer

Semana202120

Em meio a pressões internacionais contra o desmatamento da Amazônia, o presidente Jair Bolsonaro inaugura hoje a ponte de Abunã, uma obra de 1.517 metros na confluência dos rios Madeira e Abunã, na qual foram investidos R$ 160 milhões. Com ela, será facilitado o acesso aos portos do Pacífico, via Peru, de uma das áreas de maior aceleração do comércio exterior no Brasil: o Amacro, acrônimo formado por Amazonas, Acre e Rondônia.

Cento e dezessete anos depois de incorporado ao Brasil, o Acre ganhará uma ligação rodoviária com as demais capitais. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, estará presente. “Estamos entregando mais do que uma ponte; estamos realizando um projeto de integração nacional, interligando o Acre e a região Norte ao sistema rodoviário do país”, disse, por meio de nota.

Ao mesmo tempo em que viabiliza uma saída mais próxima da Ásia, principal mercado consumidor do país, e cria condições para que o Acre seja um “hub” logístico, a ponte lança o desafio de não se repetir o modelo de expansão econômica visto em Mato Grosso e na área chamada Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia): desmatamento, seguido de atividade pecuária e produção de grãos.

É, porém, o que se vê nos números, segundo aponta a nota técnica “A Ponte de Abunã e a Integração da Amacro ao Pacífico”, coordenada pelo pesquisador Pedro Silva Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Nos últimos 20 anos, as exportações do Acre foram multiplicadas por 20, as de Rondônia, por 23, enquanto o total do país cresceu quatro vezes em dólares nominais.

Mas, atualmente, 39% das vendas ao exterior feitas pelo Acre são de madeira. Em Rondônia, a participação do produto já foi de 93% na virada do século, mas hoje 80% são carne e soja. No Amazonas, a participação dos industrializados nos embarques recuou de 50% em 2000 para 30%, ante avanço dos produtos primários.

O Amacro é uma oportunidade para criar um modelo mais sustentável, disse Barros. Ele avalia que é possível aumentar a produção de carne e grãos utilizando as áreas que já foram desmatadas. Ao mesmo tempo, por estar a menos dias de viagem da Ásia, a região pode se beneficiar da exportação de carne fresca, 20% mais valiosa do que a congelada. Há espaço ainda para produtos regionais.

A ponte não fará nenhum milagre na economia local no curtíssimo prazo, disse o pesquisador. Mas está em linha com uma tendência já estabelecida: a migração da produção brasileira para o oeste do país, simultânea ao crescimento de Ásia e Oriente Médio como principais destinos das exportações brasileiras. Essa força econômica faz com que a superação do obstáculo da Cordilheira dos Andes seja cada vez mais viável.

A ponte de Abunã integra a chamada “Rota Interoceânica” ou “Estrada do Pacífico”, um caminho pavimentado de quase 2.400 km, que interliga Porto Velho (Rondônia) e San Juan de Marcona, na costa do Peru, dando acesso aos portos de Matarani e Ilo. Além de escoar a produção brasileira, a rota permitirá baratear o frete de fertilizantes para Rondônia e Mato Grosso.

Como a ponte passa sobre a hidrovia do Madeira, que chega até o Oceano Atlântico pelos portos do norte do país, o Acre pode se converter num “hub” logístico. É uma rota que pode ser interessante para as exportações do Peru para a Europa e o leste dos Estados Unidos, por exemplo.

A criação de mais saídas do Brasil para o Pacífico tem também uma importância geopolítica, observa Barros. Hoje, para os produtos brasileiros chegarem à Ásia, existem basicamente duas rotas: pelo canal do Panamá ou via Índico. É uma situação de risco, diante da tensão entre Estados Unidos e China, avalia.

O Ministério da Infraestrutura estima que 2 mil veículos cruzarão a ponte todos os dias. Sem ela, a travessia era feita em balsas, num processo que consumia perto de duas horas, ao custo de até R$ 200 para caminhões. Agora, o trajeto levará cinco minutos, sem cobrança.

A ponte está ligada à BR-364 RO, por onde passam perto de 8 milhões de toneladas de grãos por ano. É a via de escoamento da produção do Estado, além das regiões oeste e norte de Mato Grosso.

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