Portos e Terminais

Metade dos contêineres exportados do Porto de Santos não passa por escâner

abr, 11, 2024 Postado porSylvia Schandert

Semana202415

Metade dos 3.858 contêineres que saem diariamente do Porto de Santos, o maior terminal marítimo da América Latina, não passa por escâner da Receita Federal. Implantados em 2013, o equipamento ajuda a encontrar a droga escondida por facções criminosas nas cargas, na estrutura e no motor dos compartimentos. Até pouco tempo, essa modalidade de ocultação da cocaína era a mais usada pelo crime.

A Receita escaneia também o total dos 3.983 contêineres que entram no terminal. O intuito é evitar a entrada de armas, falsa declaração de conteúdo e de produtos falsificados.

Em tendência de queda, a apreensão de cocaína no terminal de Santos foi de 8,2 toneladas no último ano. É um trabalho conjunto da Receita Federal, Polícia Federal, Guarda Portuária e Marinha. Desde novembro, a convocação de uma GLO nos portos e aeroportos reforçou a fiscalização no terminal. Os representantes das agências atribuem o sucesso da queda ao caráter conjunto das operações.

— A receita é responsável pelo controle das cargas. A gente tenta promover, e não sozinho, melhorias constantes para coibir o tráfico. Mas o ilícito é lucrativo, então não vai acabar. Nossa preocupação principal é não deixar, principalmente, que ele se expanda e que torne o Porto de Santos inviável — disse o auditor-fiscal Ivan da Silva Brasílico, chefe da Divisão de Vigilância e Repressão da Alfândega de Santos, ao lembrar que, em 2021, exportadores o procuraram preocupados com a iminência da perda de contratos com empresas, porque suas cargas estavam contaminadas.

Novas rotas

Em fevereiro, uma nova regra interna da Alfândega determinou que todos os contêineres com destino a Austrália, Singapura, Indonésia, Taiwan e Hong Kong devem ser escaneados. Até então, somente as cargas exportadas para países da Europa e da África eram escrutinadas. As primeiras, desde 2016; as outras, a partir de 2019.

A decisão ocorreu depois que cargas contaminadas, saídas do Brasil, foram encontradas nesses países. Além disso, contêineres com essa destinação foram pegos com cocaína no Porto de Santos. Em caráter experimental, a nova medida tem previsão de término no fim de abril, mas pode ser prorrogada.

Trata-se de um negócio bastante lucrativo. Investigações do Ministério Público de São Paulo mostram que o quilo da cocaína pura, tipo exportação, é comprado na Colômbia e no Peru por até US$ 1,8 mil e vendido por US$ 37 mil na Europa e US$ 150 mil na Ásia. Na Austrália, chega a valer US$ 300 mil, segundo apurou o GLOBO.

Brasílico afirma que a troca de informações entre os países é essencial para a descoberta dessas novas rotas usadas pelo crime organizado.

No último dia 20, com a ajuda de cães farejadores, a Receita interceptou 46 kg de cocaína na estrutura de um contêiner refrigerado que levava tambores de suco de laranja concentrado. O destino da droga era o Porto de Sydney, na Austrália. A inspeção foi feita depois de procedimentos regulares de monitoramento e de análise de riscos, combinados com a utilização de imagens de escâneres.

O destino ficou tão visado que o Brasil já enviou mergulhadores do crime organizado para a Oceania. Em geral, mergulhadores envolvidos no esquema de tráfico viajam até outros países para submergir até o casco da embarcação contaminada e encontrar o local onde a droga é ocultada, no país de origem. Um brasileiro suspeito de participar de uma operação do tipo na Austrália, para recuperar blocos de cocaína de um navio de bandeira argentina, morreu afogado em maio de 2022.

— Antes, o crime organizado aliciava mergulhadores profissionais para este trabalho. Depois de um tempo, passou a ser feito de forma mais empírica. Eles foram aprendendo e difundindo conhecimento —, afirma Daniel Coraça, chefe da Delegacia de Santos da Polícia Federal.

Fonte: O Globo

Clique aqui para ler o texto original: https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2024/04/10/metade-dos-conteineres-exportados-do-porto-de-santos-nao-passa-por-escaner.ghtml

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