Grãos

Guerra entre Rússia e Ucrânia impacta amendoim brasileiro

mar, 04, 2022 Postado porSylvia Schandert

Semana202209

A guerra iniciada pela Rússia na Ucrânia não preocupa o agro apenas pela dependência de fertilizantes. Ela começou também a impactar as exportações e um dos produtos afetados foi o amendoim do Brasil.

Os dois países do leste europeu são os destinos de quase metade deste produto brasileiro que vai para o exterior, gerando às empresas daqui cerca de US$ 344 milhões em vendas, no ano passado.

Os russos pagaram por 37,6% desse valor e a Ucrânia, 8,71%, de acordo com dados do Ministério da Agricultura.

Por outro lado, apesar da sua importância no comércio com esses dois países, o amendoim não está nem entre os 10 produtos mais exportados pelo Brasil. O valor da sua venda externa representa apenas 1% do que o país embarca de soja, por exemplo.

Metade de todo o amendoim produzido no Brasil é exportado e o restante fica no mercado interno.

Na Rússia e na Ucrânia, o amendoim é consumido tanto na forma de aperitivo como no preparo de doces. E as remessas do Brasil acontecem durante todo o ano.

“O amendoim estava em processo de embarque [para Rússia e Ucrânia], mas, com o início da guerra, o exportador segurou a carga”, conta o presidente da Câmara Setorial do Amendoim do governo de São Paulo, Luiz Antônio Vizeu.

Confira a seguir o histórico das exportações brasileiros para a Rússia com destaque para as exportações de amendoim (HS 1202), o produto mais comercializado entre os dois países nos anos de 2020 e 2021. Os dados são do DataLiner.

Exportações Brasileiras para a Rússia | Jan a Dez 2020 – 2021 | TEU

Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demo)

Os militares da Ucrânia fecharam os seus portos logo após a invasão russa na madrugada do dia 24 de fevereiro. Já as empresas de transporte marítimo estão suspendendo temporariamente o deslocamento de contêineres para a Rússia, após sanções ocidentais impostas a Moscou.

Uma delas é a gigante Maersk, que tomou a decisão nesta terça-feira (1), seguindo deliberações semelhantes da Ocean Network Express (ONE), com sede em Singapura, da Hapag Lloyd, da Alemanha, e do grupo de transporte marítimo MSC, com sede na Suíça.

Carga parada e incertezas

No Brasil, a maior parte do amendoim sai pelo Porto de Santos, no litoral paulista, e uma fatia pequena por Paranaguá, no Paraná. O comércio se concentra no Sudeste, pois o estado de SP produz cerca de 93% das 700 mil toneladas de amendoim colhidas no ano, pelo país.

Uma empresa do município de Tupã, uma das principais cidades produtoras e exportadoras de amendoim, disse à TV Tem de Bauru na última segunda-feira (28) que está com quase 100 contêineres indo para a Rússia e mais 30 parados em Istambul, que teriam como destino a Ucrânia.

Outros 20 contêineres deixaram de ser embarcados por causa do conflito.

Vizeu, da Câmara Setorial de SP, diz que ainda não sabe detalhar quantos contêineres com amendoim estão parados nos portos ou nas empresas brasileiras e nem quantos navios estão navegando. “Todo esse acontecimento é uma grande incógnita para o setor, mas, com certeza, vai nos afetar de alguma forma, como no custo do frete e no preço [do amendoim]”, acrescenta.

Até o ano passado, a leguminosa passava por um bom momento no mercado de grãos. O preço da saca de amendoim em 2020 era negociado, em média, a R$ 84,78 no país, valor que subiu para R$ 96,52 em 2021, mas que recuou a um patamar entre R$ 65 a R$ 70 reais este ano, devido a um aumento da oferta.

Um dos temores dos produtores é de que o conflito possa desvalorizar ainda mais a cotação. Além disso, as empresas que já fecharam contrato estão com receio de não serem pagas por causa de sanções, como as que bloquearam dinheiro de russos em bancos internacionais.

Ganhando espaço no mundo

No mundo, o Brasil é o quinto maior exportador de amendoim, atrás de Índia, EUA, Argentina e China, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

O “snack” brasileiro vem ganhando cada vez mais espaço pelo globo e chegou a ganhar impulso adicional em 2019 depois de uma queda na produção argentina. “Há três anos, faltou amendoim dos argentinos e, então, a Rússia e outros países passaram a comprar cada vez mais o produto brasileiro”, diz Vizeu.

Além disso, o aumento dos padrões de qualidade do petisco nacional, nos últimos anos, tem feito ele ser bem aceito em mercados bastante rígidos, como a União Europeia.

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