Economia

Economia da China enfrenta final de ano amargo

dez, 01, 2023 Postado porGabriel Malheiros

Semana202343

A retração da atividade industrial aprofundou-se em novembro, afetada pela falta de encomendas locais e internacionais, enquanto a atividade no setor de serviços encolheu pela primeira vez em 2023, um sinal preocupante para o consumo, de acordo com pesquisas empresariais divulgadas nesta quinta-feira. Apenas a construção registrou expansão em relação ao mês anterior, sustentada pelo aumento dos investimentos do governo em infraestrutura.

Em conjunto, as pesquisas mostram que a economia chinesa precisa de mais ajuda do governo para evitar uma desaceleração muito acentuada no fim do ano, segundo economistas. As empresas vêm encontrando poucos compradores para seus produtos no exterior, diante da desaceleração do crescimento nos EUA e em outras economias importantes.

O gigantesco setor imobiliário da China se encontra mergulhado em um longo retrocesso, o que pressiona a confiança do consumidor e a disposição das famílias de gastar. O ritmo de queda dos preços dos imóveis residenciais em 70 grandes cidades em outubro foi maior do que em setembro, enquanto no país como um todo as vendas de novas casas, em termos de área construída, caíram 20% na comparação anual.
As dificuldades da China se somam aos ventos contrários enfrentados pela economia mundial, que está sendo afetada pelas guerras na Ucrânia e no Oriente Médio e pelo forte ciclo de elevação dos juros pelos bancos centrais, empenhados no combate à inflação.

Os números das pesquisas sinalizam que a economia chinesa deverá ter desaceleração no último trimestre do ano, após a modesta retomada no verão chinês. O próximo ano pode representar um desafio ainda maior ao crescimento, a menos que o governo e o banco central intensifiquem os estímulos, para ressuscitar a confiança do consumidor e das empresas, e elevem os gastos e investimentos, de acordo com economistas.

Os resultados das pesquisas desta quinta provavelmente deixarão as autoridades chinesas “um pouquinho tensas”, segundo Louise Loo, economista-chefe especializada na China na Oxford Economics, em Cingapura. “Provavelmente, eles examinarão os dados de hoje e decidirão que mais [estímulos] precisam entrar na equação.”

O índice oficial de gerentes de compras da China sobre a atividade industrial caiu de 49,5 pontos, em outubro, para 49,4 em novembro, de acordo com a Agência Nacional de Estatísticas da China, segundo mês consecutivo abaixo da marca de 50 pontos, que define se há expansão ou contração.

O resultado ficou abaixo dos 49,8 pontos previstos por economistas numa pesquisa do “The Wall Street Journal”. As novas encomendas, tanto locais quanto estrangeiras, diminuíram. Um indicador do apetite das empresas para contratar trabalhadores recuou, sinal de que o setor industrial, um grande motor da economia chinesa, vem sentindo o impacto de uma desaceleração mundial, assim como dos gastos mais baixos no mercado interno.

O indicador similar sobre a atividade no setor de serviços caiu de 50,1 pontos, em outubro, para 49,3, em novembro. Ao longo de 2023, o setor de serviços vinha tendo melhor desempenho que o industrial, à medida que os consumidores voltavam às lojas, restaurantes e pontos turísticos após a revogação de quase todas as restrições da covid-19 no início do ano. No entanto, a forte retomada que se esperava no consumo nunca se concretizou realmente, pois a crise imobiliária e o alto desemprego entre os jovens minaram a disposição dos consumidores de gastar. Os dados desta quinta indicam que os consumidores ficaram ainda mais pessimistas.

O índice de atividade da construção subiu de 53,5 para 55 pontos, impulsionado pelo investimento governamental em infraestrutura, uma das ferramentas favoritas das autoridades econômicas chinesas para impulsionar o crescimento quando outras fontes deixam a desejar.
As autoridades aplicaram medidas para fortalecer a economia, incluindo cortes nos juros e uma série de iniciativas para impulsionar o anêmico mercado imobiliário, como flexibilizar as restrições à compra de imóveis em algumas cidades.

As medidas ajudaram. O banco central da China, assim como muitos economistas, prevê que o país terá uma expansão em torno de 5% em 2023, alinhada à meta relativamente modesta do governo. No entanto, segundo economistas, o enfraquecimento generalizado na atividade indica que até agora os estímulos não têm sido suficientes para promover uma recuperação durável.

“Embora eles tenham efetivamente estabelecido um piso para o crescimento, ainda não estamos totalmente fora de perigo”, disse Carlos Casanova, economista sênior para a Ásia no Union Bancaire Privé, em Hong Kong. “Eles realmente precisam continuar dando sustentação.”
Muitos economistas dizem que a ajuda do governo deveria ser direcionada ao mercado imobiliário. Estabilizando esse setor, dizem eles, a confiança do consumidor voltará. As opções incluem afrouxar ainda mais as restrições às compras, que foram criadas originalmente para conter a especulação imobiliária, e encorajar os bancos a emprestar mais para as incorporadoras imobiliárias em melhor estado, para que possam concluir projetos inacabados.

Alguns economistas dizem que o governo deveria considerar conceder auxílios diretos às famílias para incentivá-las a gastar, enquanto outros defendem assistência financeira a pequenas e médias empresas que enfrentam um cenário atual muito mais complicado do que as grandes e as estatais. Muitos economistas calculam que o banco central da China vai reduzir ainda mais os juros ou ajustar outros componentes da política econômica nos próximos meses para incentivar o crédito.

A abordagem fragmentada para os estímulos que se optou por adotar até agora reflete a cautela da liderança comunista da China em relação a políticas de grande escala, desde que um pacote em 2008 alimentou uma bolha imobiliária com a qual precisam lidar até hoje. O líder Xi Jinping também manifestou sua aversão aos subsídios no estilo ocidental para estimular a demanda, por acreditar que são um desperdício. Prefere, em vez disso, orientar o foco na construção de estradas, fábricas e outras medidas que aumentem a oferta.

Além das dificuldades de curto prazo, a economia chinesa enfrenta desafios de longo prazo, que começam a pesar em sua capacidade de continuar crescendo no mesmo ritmo mantido por tantos anos. Entre eles estão os conflitos na segurança nacional e no comércio exterior com os EUA e seus aliados, além do rápido envelhecimento demográfico da sociedade chinesa.

As autoridades também tentam orquestrar um delicado reequilíbrio da economia chinesa em favor de um modelo em que o crescimento seja mais impulsionado pelo consumo e por setores como a indústria avançada, e menos pelos altos investimentos em imóveis e infraestrutura. Essa transição, que poderia se mostrar dolorosa, implica um período de crescimento mais fraco à medida que a economia se ajusta.

Em discurso recente em Hong Kong, o presidente do Banco do Povo da China, autoridade monetária do país, Pan Gongsheng, disse que a transformação econômica em andamento na China “será uma jornada longa e difícil, mas é uma jornada” que o país precisa fazer. (Colaborou Xiao Xiao)

Por Jason Douglas para o Wall Street Journal

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