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Diesel da Rússia ultrapassa EUA em importações do Brasil

ago, 25, 2023 Postado porGabriel Malheiros

Semana202335

Companhias do setor de petróleo, como Petrobras e Vibra, têm alertado sobre os altos volumes de importação de diesel russo no Brasil desde fevereiro. Especialistas consultados pelo Valor dizem que esse aumento é momentâneo e começou a apresentar sinais de desaceleração em julho.

O analista da consultoria S&P Global, Felipe Perez, diz que a instabilidade da economia russa impede que os contratos sejam feitos a prazos mais longos. Segundo ele, essas compras se dão mais pela boa oportunidade dos baixos preços atuais, já que a Rússia ainda está impedida de fazer negócios com a União Europeia e os Estados Unidos: “O diesel que chega da Rússia ao Brasil tem uma vantagem econômica. Desde que as regras do jogo sejam cumpridas, não existe uma penalização”, explica Perez.

Sob sanções internacionais por conta da guerra com a Ucrânia, a Rússia tem comercializado petróleo e derivados com desconto em relação às cotações oficiais. Desde fevereiro deste ano, a União Europeia embargou a entrada de diesel e outros derivados do petróleo vindos da Rússia. O petróleo bruto já estava proibido desde dezembro. As regras levaram a Rússia a redirecionar a venda de seus produtos, com o Brasil crescendo no ranking desde então, além da Índia e da China, que puderam refinar o petróleo russo e revender.

O G7, grupo dos sete países mais industrializados do mundo, e a UE impuseram um teto global de preço sobre os produtos comprados da Rússia. Esse limite vale para empresas que não são baseadas nos países do G7 e na Europa, mas têm negócios com essas regiões, caso, por exemplo, de companhias brasileiras. O teto é de US$ 100 por barril para os principais derivados, como diesel, e de US$ 45 para os mais baratos, como lubrificantes.

O volume de importação do diesel da Rússia pelo Brasil em 2023 tomou trajetória ascendente de janeiro até junho. Enquanto no primeiro mês do ano o país não importou o derivado russo, fevereiro marcou US$ 98 milhões, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Em junho, a compra foi de US$ 344,6 milhões.

A efeito de comparação, a Rússia ultrapassou os Estados Unidos entre os países que vendem diesel ao Brasil. Em janeiro, os americanos venderam US$ 309 milhões do derivado para o Brasil, enquanto o volume em junho ficou em US$ 80,3 milhões.

Em julho, o valor das importações de diesel da Rússia para o Brasil ficou em US$ 240,7 milhões, enquanto a venda do combustível dos Estados Unidos para o Brasil somou US$ 203,7 milhões.

Segundo levantamento da Agência Nacional de Petróleo (ANP) analisado pelo Valor, cerca de 25 companhias tiveram pedidos aprovados para importar produtos da Rússia entre janeiro e junho. O pedido não significa que a companhia efetivou a importação, mas que foi autorizada. A Braskem, uma das que tiveram pedidos deferidos, disse que não importou produtos russos em 2023. Procurada, a Refinaria de Manaus, que também está na lista, não respondeu.

Na divulgação dos resultados do segundo trimestre, a Vibra afirmou que o aumento da entrada do combustível da Rússia no país pressionou as margens da companhia. Mas a empresa ressaltou que preferiu não comprar diesel do país europeu. No lugar da importação, a empresa optou por cortar custos e estreitar relacionamento com a Petrobras, principal parceiro da distribuidora de combustíveis.

O diretor de logística, comercialização e refino da Petrobras, Claudio Schlosser, disse na teleconferência de resultados do segundo trimestre da estatal que a empresa tem observado o aumento do fluxo de combustíveis de origem russa no Brasil. Na ocasião, antes de a estatal reajustar os preços dos combustíveis (aumentos de 16,3% da gasolina e 25,8% do diesel em 15 de agosto), Schlosser destacou que a Petrobras vê incertezas em relação à economia global, o que afeta a expectativa por demanda de energia.

O cenário pode mudar nos próximos meses. De acordo com o analista da S&P Global, a política de preços da Petrobras levou as importadoras no Brasil a aproveitarem o preço atual do produto russo, mas essa prática é a curto prazo, já que os Estados Unidos ainda são um parceiro com maior confiabilidade para contratos longos. “O importador independente precisa se posicionar para competir com o mercado interno. Mas a vantagem do diesel russo vai diminuir com o tempo.”

Felipe Perez explica que, como as sanções já se arrastam há certo tempo, a tendência é que os russos passem a priorizar o mercado interno. Perez destaca também que não existe um problema de empresas brasileiras importarem diesel da Rússia em meio a barreiras geopolíticas desde que cumpram as regras acordadas entre G7 e União Europeia.

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, diz que os preços têm voltado ao normal no mercado internacional, ante ao que era praticado no início da sanção, e que a necessidade de importação da Rússia foi momentânea: “São operações pontuais. É difícil pensar em negócio a longo prazo em se tratando de Rússia e Ucrânia. A Rússia está em situação desconfortável e tenta viabilizar a geração de receita, mas não é comercializador tradicional de petróleo ao Brasil.”

Fonte: Valor Econômico

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