Petróleo e Gás

Crise no Oriente Médio pode ampliar vendas do Brasil para os EUA

abr, 19, 2024 Postado porGabriel Malheiros

Semana202416

A intensificação do conflito no Oriente Médio pode ter impacto no comércio Brasil-Estados Unidos caso as cotações de petróleo sejam afetadas, dado o espaço importante da commodity e seus derivados nas trocas bilaterais, avalia a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil). A expectativa é de alta dos embarques totais brasileiros aos americanos em 2024. A exportação aos EUA cresceu acima da média do total embarcado pelo país no primeiro trimestre e ajudou no superávit de US$ 855,6 milhões, o primeiro para o período em 16 anos.

Principais exportações para países do Oriente Médio | Jan-Fev 2024 | TEU

Fonte: DataLiner (clique aqui para solicitar uma demonstração) 

O petróleo bruto é o principal produto brasileiro vendido aos americanos e respondeu por 19% da receita de embarques aos americanos de janeiro a março. Na importação brasileira origem EUA, os combustíveis são o segundo item mais comprado, com 9,9% da pauta. O valor dessa importação, porém, diminuiu 46% de janeiro a março deste ano contra igual período do ano passado.

O principal item dentre os combustíveis é o diesel, produto no qual os americanos têm sofrido grande concorrência dos russos. Abrão Neto, CEO da Amcham, lembra que as primeiras análises após os ataques que levaram ao aumento da tensão no Oriente Médio indicam impacto ainda restrito nos preços de petróleo, mas esse cenário precisa ser acompanhado.

Segundo o “Monitor do Comércio Brasil – Estados Unidos”, divulgado pela Amcham, as exportações brasileiras aos americanos cresceram 19,5%, taxa cinco vezes maior que a de 3,2% de alta total das vendas externas do Brasil. Considerando a balança bilateral, o aumento dos embarques permitiu o primeiro superávit num primeiro trimestre desde 2008.

Para Abrão Neto, essa é uma marca a ser notada. Ele diz, porém, que as relações bilaterais têm mostrado equilíbrio nas trocas comerciais e ressalta a tendência de desempenho crescente da corrente de comércio, que é a soma das importações e das exportações. “Houve aumento da corrente de comércio de quase 5% contra o primeiro trimestre do ano passado, chegando ao valor de US$ 18,8 bilhões, que é a segunda melhor corrente de comércio para o período”, ressalta. O valor, indicam os dados da Amcham, fica atrás somente da corrente de US$ 19 bilhões dos primeiros três meses de 2022.

“Houve desempenho contundente das exportações aos Estados Unidos. Tivemos no primeiro trimestre recorde para o período em valor e em quantidade.” O aumento em volume foi de 33,1% em janeiro a março de 2024 contra iguais meses do ano passado.

O bom desempenho, diz o CEO, não foi pontual, porque a alta veio disseminada na pauta de exportação. Entre os dez principais produtos que o Brasil exporta aos EUA, destaca, houve crescimento em valor em nove deles. Em volume, mostram os dados da Amcham, houve alta em oito. O embarque do principal item exportado, o petróleo bruto, somou US$ 1,83 bilhão de janeiro a março, mais que o dobro dos US$ 755 milhões em iguais meses de 2023. Além da demanda crescente dos EUA, o aumento é explicado pela crescente produção de petróleo no Brasil, diz a Amcham. Ferro-gusa, combustíveis e aeronaves também tiveram aumento de valor no mesmo período. Dos dez produtos que o Brasil mais vende aos americanos, oito são da indústria de transformação.

Abrão Neto ressalta o aumento da exportação de bens industriais, que representam atualmente 75% dos embarques aos americanos e atingiram novo recorde de valor de janeiro a março deste ano, com total de US$ 7,3 bilhões, com alta de 5,7% contra iguais meses de 2023. O valor embarcado em bens industriais aos americanos, observa, supera o que foi destinado aos dois principais blocos comerciais que são parceiros do Brasil na exportação desse tipo de produto. Segundo dados do levantamento, o Brasil exportou de janeiro a março US$ 4,9 bilhões em bens industriais à União Europeia e outros US$ 3,9 bilhões para o Mercosul.

“Nossa expectativa para 2024 é de crescimento nas exportações brasileiras aos EUA. Se vamos manter fôlego na casa de dois dígitos é algo a ser acompanhado, mas a expectativa é de manter o dinamismo do comércio bilateral, possibilitado pela previsão de crescimento de ambas as economias.”

No lado da importação, houve uma queda de 7,8% no total desembarcado com origem EUA. Mas a redução, diz Abrão, não reflete a tendência geral das compras brasileiras de itens americanos, já que a queda foi puxada pelo desempenho dos óleos combustíveis, cuja importação caiu mais de 45% no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2023.

Em termos absolutos, explica, a importação de óleos combustíveis caiu cerca de US$ 760 milhões de janeiro a março deste ano contra iguais meses de 2023, quase os mesmos US$ 758 milhões de diferença da importação total brasileira origem EUA em igual período. Para Abrão, a queda está dentro de cenário global no qual há mudança no fornecimento de petróleo e derivados, fenômeno que acontece há cerca de dois anos. Outro fator que pode ter influenciado, cita Abrão, é a oferta do diesel americano, que, segundo alguns indicadores, está reduzida neste ano.

O CEO destaca que quando se olha os dez produtos mais desembarcados vindos dos EUA, houve alta em oito deles, o que mostra a tendência de crescimento das importações. O executivo ressalta, entre as compras externas, a alta em itens como motores e máquinas não elétricos, polímeros de etileno e aeronaves, esse último item representativo de um ramo que vem se recuperando e que conta com integração de cadeira produtiva consolidada entre os dois países.

Fabrizio Panzini, diretor de relações governamentais da Amcham, ressalta a importação no ramo de aeronaves, que cresceu 64,1% em 2024 contra 2023. As exportações no mesmo segmento subiram 57,5%, sempre de janeiro a março. O nível de crescimento, diz o diretor, mostra o dinamismo de um ramo muito importante no comércio bilateral e cujas trocas se aceleram mais rapidamente em 2024.

Para Abrão Neto, o conjunto de dados do comércio Brasil-EUA no primeiro trimestre mostra um crescimento consistente. “Esperamos que o marco comemorativo dos 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países resulte em novos impulsos ao comércio e aos investimentos.”

Fonte: Valor Econômico

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