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Com restrição de oferta, preços da celulose sobem mais de 40% no ano

jun, 09, 2022 Postado porSylvia Schandert

Semana202223

Os preços nominais da celulose estão alcançando nível recorde em 2022 e não há sinais de que haverá correção acentuada, ao menos nos próximos meses. A oferta global, limitada por gargalos logísticos, guerra na Ucrânia, problemas em fábricas e atrasos no início de operação de novas linhas produtivas, segue dando suporte ao rali, com anúncios mensais de reajuste por parte dos produtores.

Na China, maior consumidora mundial da matéria-prima, o preço líquido da fibra curta avançou mais de 40% em seis meses. E deve subir mais, com a aplicação do aumento de US$ 30 por tonelada anunciado para junho, se aproximando de US$ 840 por tonelada. No geral, analistas projetam preço médio de mais de US$ 700 por tonelada neste ano.

Para analistas e fontes da indústria ouvidos pelo Valor, há margem para implementação desse reajuste, assim como dos aumentos de US$ 50 e US$ 60 por tonelada para Europa e América do Norte neste mês. Nesses mercados, os preços de referência praticados pela Suzano, maior produtora de celulose de mercado do mundo, chegarão a US$ 1.350 e US$ 1.580 por tonelada, respectivamente.

“Logística é a origem de tudo e não vemos perspectiva de melhora para o segundo semestre”, afirma o diretor comercial de celulose e gente e gestão da Suzano, Leonardo Grimaldi. Preocupações quanto à demanda no terceiro trimestre foram dissipadas, mas há incertezas em relação ao quarto trimestre, dado o risco de recessão exacerbado pela guerra na Ucrânia.

Questionado sobre a aplicação dos reajustes de junho, Grimaldi afirmou que as negociações ainda estão em curso, mas o sentimento é de otimismo. A International Pulp Week (IPW), que começa no domingo em Vancouver, no Canadá, servirá como bom termômetro do mercado, acrescentou.

Além do congestionamento em portos e da elevação do frete marítimo, em particular de contêineres no caso da celulose, paradas inesperadas em fábricas reduziram a disponibilidade da matéria-prima no mercado e o nível dos estoques em toda a cadeia de valor, ainda hoje crítico.

Somente entre janeiro e abril, esses eventos já reduziram a oferta global em 1,65 milhão de toneladas, quase o mesmo que cresce o consumo mundial em um ano. Os números não refletem a recente parada na fábrica da Arauco em Valdívia, no Chile, após um incêndio no fim de maio. A unidade tem capacidade de 550 mil toneladas por ano e, desde 2020, produz principalmente celulose solúvel.

A invasão da Ucrânia pela Rússia, por sua vez, afetou principalmente a oferta de madeira para produção de celulose na Europa. “A Finlândia depende em 15% da madeira vinda da Rússia para alimentar a sua produção de celulose”, diz o sócio-diretor do grupo Index e mestre em Economia e Política Florestal, Marcelo Schmid. Também por causa da guerra, certificadoras relevantes, como FSC (do inglês Forest Stewardship Council), retiraram seu selo dos produtos florestais russos, o que praticamente inviabiliza o comércio com os europeus.

Para o analista Daniel Sasson, do Itaú BBA, há margem para aplicação dos aumentos nos preços da celulose anunciados para este mês, mas eles elevam a pressão sobre as papeleiras, sobretudo na China. Ainda assim, a relação apertada entre oferta e demanda favorece o novo reajuste, observa. “Pode haver ajuste e normalização dos preços a partir do quarto trimestre, com a entrada em operação de novas capacidades, se não houver atraso do projeto Mapa”, afirma.

Enquanto a partida da nova fábrica de celulose da UPM no Uruguai foi postergada deste ano para o primeiro trimestre de 2023, o início de operação do projeto Mapa, da Arauco, foi novamente adiado, agora para o terceiro trimestre.

Em relatório desta semana, o Bradesco BBI elevou as estimativas para os preços da celulose de fibra curta para US$ 775 por tonelada em 2022 e US$ 730 por tonelada no ano que vem. Para os analistas Thiago Lofiego, Isabella Vasconcelos e Camilla Barder, os gargalos logísticos serão contornados e levarão a ajustes nos preços, mas gradualmente. Ainda assim, 2023 deve ser mais um ano de oferta limitada.

“Acreditamos que a unidade Paso de Los Toros da UPM [no Uruguai] vá ser postergada novamente, devido a restrições logísticas e de fornecedores”, escreveram. Além disso, a Bracell segue produzindo volumes crescentes de celulose solúvel – e não de eucalipto -, entre outros fatores que reduzem a projeção de oferta adicional em 2023 de 2,5 milhões de toneladas para 1,6 milhões de toneladas, indicaram.

Ao mesmo tempo, a demanda de celulose no próximo ano deve ser impulsionada pela recomposição de estoques no sistema. Citando dados da Hawkins Wright, o Bradesco BBI aponta que os estoques nos consumidores recuaram cerca de 1,8 milhão de toneladas desde o quarto trimestre de 2020.

Para o Morgan Stanley, a valorização do real frente ao dólar deve apagar parte dos ganhos com cotações mais elevadas no segundo trimestre. Em nota a clientes, o analista Carlos De Alba disse que o preço mais alto da celulose de eucalipto na China foi de US$ 830 por tonelada, em junho de 2010, na série histórica do banco

Fonte: Valor Econômico

Para ler o texto original completo acesse:

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/06/09/com-restricao-de-oferta-preco-da-celulose-sobe-mais-de-40-no-ano.ghtml

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