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Café conilon do Brasil ganha espaço no principal mercado produtor

abr, 04, 2024 Postado porGabriel Malheiros

Semana202414

A escassez de chuvas afetou diretamente as lavouras de café robusta no Vietnã e na Indonésia, que lideram a produção da variedade no mundo. Com as restrições de oferta, as exportações brasileiras de café conilon para esses dois países dispararam, o que fez com que as cotações do grão alcançassem um patamar histórico nesta semana: pela primeira vez, o preço da saca de 60 quilos chegou a R$ 1 mil no mercado interno.

Assim como o grão robusta, o conilon — ambos são variedades da espécie canéfora — destina-se principalmente à composição das misturas (os chamados “blends”) de café moído e à produção de café solúvel. A falta de chuvas reduziu a colheita de vietnamitas e indonésios, que, para não ficarem sem café para suas exportações, embarcam o grão disponível e compram o brasileiro para abastecer seu mercado interno.

Essa não é a primeira vez que o Brasil exporta conilon a Vietnã e Indonésia, mas o volume dos embarques é virtualmente inédito. Segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), no primeiro bimestre deste ano, a Indonésia comprou 36,7 mil sacas de conilon brasileiro, o que representou um salto de 415% em relação ao mesmo período de 2023, quando os embarques somaram 7,1 mil sacas. Na mesma base de comparação, os embarques ao Vietnã cresceram 26%, para 17,6 mil sacas.

O Espírito Santo lidera a produção nacional de conilon. Ontem, o preço da saca de 60 quilos da variedade subiu 3,3% e encerrou o dia negociada por R$ 1.024,70 no Estado, segundo o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

“Os fatores para a alta do conilon permanecem os mesmos: demanda aquecida e oferta limitada. Com o Vietnã fora do mercado, o Brasil está sendo procurado para abastecer os compradores”, disse Antônio Pancieri Neto, da Clonal Corretora de Café, que relatou que houve negócios por até R$ 1.035 ao longo do dia.

Além do crescimento da demanda externa pelo café brasileiro, também os problemas climáticos têm puxado a valorização do grão. A estiagem que castigou os cafezais do Espírito Santo no fim de 2024 deve reduzir a produção no Estado, o que oferece sustentação adicional às cotações. Ainda assim, disse Pancieri Neto, o conilon capixaba segue competitivo no mercado internacional, já que o café vietnamita sai hoje por valor equivalente a R$ 1.230 a saca.

A limitação de oferta nos dois principais países produtores da variedade e as restrições logísticas causadas pelos ataques de rebeldes iemenitas no Mar Vermelho, rota do grão para chegar à Europa, têm reflexos sobre os preços no mercado internacional. Na bolsa de Londres, referência para as negociações de robusta, os contratos que vencem em maio, atualmente os mais líquidos, subiram ontem 3,79%, para US$ 3.802 a tonelada.

Nos últimos dias, as negociações em Londres têm exercido influência sobre os preços também na bolsa de Nova York, onde ocorrem negociações de arábica, espécie da qual o Brasil é o maior produtor global. Na bolsa americana, os lotes para maio encerraram a quarta-feira em alta de 2,96%, a US$ 2,0360 a libra-peso.

“Segundo operadores de mercado no Vietnã, os produtores do país seguem sem fechar mais vendas, apesar de o preço estar em nível recorde. Isso tem ocorrido por causa da baixa disponibilidade do grão”, disse Vicente Zotti, sócio da Pine Consultoria.

A nova dinâmica de mercado, em que os dois maiores produtores de robusta têm precisado buscar mais café no Brasil e em outros países para ter grão para consumo próprio, já entrou no radar de nomes importantes da cadeia de comércio global. A Neumann Kaffee Gruppe, a maior comerciante de café do mundo, por exemplo, abriu um escritório de importação na Indonésia no início do mês passado para atender essa demanda.

Segundo Zotti, estima-se que os problemas climáticos levarão a uma quebra de safra de até 6 milhões de sacas nos dois principais países produtores de robusta. Em todo o Sudeste Asiático, mas especialmente no Vietnã, o grande temor, hoje, é com a possibilidade de não chover nas próximas semanas, quando ocorrerá a florada dos cafeeiros. Se o volume de chuvas ficar abaixo da média histórica, a safra a ser colhida em dezembro “pode sofrer um bom baque”, afirmou.

Os problemas na oferta de café no Sudeste Asiático têm ocorrido em um momento de expansão do consumo na região, o que acentua a elevação dos preços e também a necessidade de aumento das importações. Na Indonésia, por exemplo, o consumo cresceu, em média, 4% ao ano durante a última década, de acordo com a associação de exportadores locais. O ritmo de expansão é mais forte que a estimativa da Organização Internacional do Café (OIC) para o aumento da demanda neste ano — o consumo global vai crescer 2,2% em 2024, calcula a entidade.

Esses elementos abrem novas possibilidades para o conilon brasileiro. “Nos próximos anos, o Brasil pode se tornar o maior produtor de conilon do mundo, ultrapassando os asiáticos”, disse Marcos Matos, presidente do Cecafé.

Fonte: Globo Rural; leia a matéria original aqui: https://globorural.globo.com/agricultura/cafe/noticia/2024/04/cafe-conilon-do-brasil-ganha-espaco-no-principal-mercado-produtor.ghtml

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