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Regras de Comércio

Brasil vê janela fechar para acordo comercial de Mercosul e UE

mar, 04, 2024 Postado porGabriel Malheiros

Semana202409

Após um período de grande otimismo, o governo brasileiro praticamente jogou a toalha em relação ao acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Os meses de janeiro e fevereiro eram vistos pelo Itamaraty como a grande “janela de oportunidade” para a assinatura do tratado, que acabou não acontecendo. Com a chegada de março e o início do calendário das eleições para o Parlamento Europeu, a tendência é que nada mais avance neste ano.

Diplomatas brasileiros avaliam que até mesmo a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, abertamente favorável ao acordo, deve deixar a pauta de lado em meio ao processo eleitoral. A leitura predominante é de que ela vai concentrar as atenções em sua própria recondução, para a qual precisará, por exemplo, dos votos da França, ferrenha opositora ao acordo com o Mercosul.

A constatação dos negociadores brasileiros já foi manifestada por sócios no bloco. A ministra de Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, sinalizou na semana passada que as “opiniões distintas” praticamente inviabilizaram o acordo comercial. “A situação de buscar algo ótimo e que deixe feliz a todas as partes não sei se será possível e talvez tenhamos que fracionar o acordo integral em vários pedacinhos”, disse a chanceler de Javier Milei.

Mondino deu as declarações durante a visita do chanceler francês, Stéphane Séjourné, a Buenos Aires, às vésperas da reunião do G20, no Rio. “Respeitamos a posição da União Europeia e lamentamos que não veja a enorme potencialidade que teria para ambas as partes. A Argentina e os outros países do Mercosul vão continuar trabalhando como bloco, talvez com outras regiões geográficas que não sejam a União Europeia”, completou.

Séjourné foi ainda mais enfático ao enterrar o acordo e sugeriu outros tipos de parcerias, tanto na área econômica quanto cultural. “O acordo, da forma como se encontra, não vai passar. Não é satisfatório”, disse o chanceler.

Semanas antes, o presidente da França, Emmanuel Macron, havia dito que os negociadores europeus estavam sendo orientados a comunicar os pares sul-americanos de que as tratativas seriam encerradas. As declarações foram feitas em meio a protestos de caminhoneiros e agricultores em todo o país. A produção agrícola francesa é tida como a grande “vítima” do acordo com o Mercosul, cuja produção agrícola é bastante competitiva.

Na ocasião, o Itamaraty reagiu ao dizer que Macron não teria legitimidade nem força política suficientes para frear um acordo dessa magnitude. A visão, agora, é de que o presidente francês “fez política” dentro do bloco europeu e acabou conseguindo interferir nas negociações. Ainda assim, o discurso oficial é de que “as negociações continuam”.

O auge do otimismo brasileiro em relação à conclusão do acordo se deu nos últimos meses do ano passado. Havia uma grande expectativa por um anúncio ainda na presidência brasileira do Mercosul, encerrada em 7 de dezembro. Às vésperas da cúpula do bloco, no Rio, a embaixadora Maria Luisa Escorel, secretária de Europa e América do Norte do Itamaraty, disse que as pendências “eram mínimas”.

Um dos combustíveis para essa confiança foi a demonstração de apoio pelo novo governo argentino. Havia uma expectativa de que Milei, então presidente eleito, poderia impor novas dificuldades, dado o seu histórico de críticas e ameaças de retirada do país do bloco sul-americano. De forma surpreendente, Mondino assumiu a política externa argentina apoiando o acordo e a parceria com o Brasil. Ela chegou a fazer uma viagem repentina a Brasília para aparar arestas diplomáticas causadas por falas de Milei.

No mesmo período, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo a Ursula von der Leyen, para que um impulso final para a assinatura pudesse ser dado. As últimas pendências estavam no capítulo de compras governamentais, pelo lado do Mercosul (especialmente o Brasil), e dos pedidos de maiores garantias da sustentabilidade da produção agrícola, pelo flanco europeu.

Fonte: Valor Econômico

Para ler a matéria original, acesse: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/03/01/brasil-ve-janela-fechar-para-acordo-comercial-de-mercosul-e-ue.ghtml

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