Economia

Brasil deixa de ocupar espaço da China nos EUA

set, 13, 2023 Postado porGabriel Malheiros

Semana202337

O México tomou o espaço da China no mercado americano e agora é o maior fornecedor externo dos Estados Unidos. De janeiro a julho deste ano os embarques chineses para os EUA caíram 24,8% ante igual período do ano passado, enquanto os dos mexicanos avançaram 5%. As vendas do Brasil encolheram 1,3%. As importações totais dos EUA caíram 6,2% em igual período, segundo dados oficiais do governo americano. Os Estados Unidos são o segundo maior destino dos embarques brasileiros, atrás da China.

Segundo dados do governo americano, de janeiro a julho o México exportou US$ 274,95 bilhões aos americanos, seguido pelo Canadá, com US$ 243,7 bilhões. Os embarques canadenses caíram em relação a igual periodo de 2022, mas com recuo de 6,4%, taxa bem abaixo da queda das exportações chinesas. A China, líder até o ano passado, caiu para a terceira posição, com US$ 239,07 bilhões.

Welber Barral, consultor da BMJ e ex-secretário de Comércio Exterior, diz que após a pandemia vieram com força os movimentos de “reshoring” e “nearshoring”, nos quais alguns países buscam ficar menos dependentes da China, com diversificação de fornecedores e principalmente colocando a produção em regiões mais próximas geograficamente ou consideradas mais amigáveis.

“Estados Unidos, Europa e Japão criaram vários programas nesse sentido. O país que mais cresceu com esse movimento dos Estados Unidos foi o México, com empresas americanas transferindo produção da China para território mexicano. Há também efeitos na Colômbia e Costa Rica, mas nada se compara ao México”, diz Barral.

O Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA, na sigla em inglês) ajuda a explicar também o quadro atual de maiores fornecedores externos dos EUA, mas há outros facilitadores de comércio para os mexicanos, diz Barral, como vantagem logística e certa padronização tecnológica e de certificação. “O Brasil é prejudicado pela produtividade da indústria, que não é alta, pela falta de acordos comerciais e pela dificuldade de integrar a cadeia global de valor.”

Ainda segundo dados do governo americano, de janeiro a julho do 2022 o Brasil exportou aos EUA US$ 21,76 bilhões. Este ano, em iguais meses, foram US$ 21,47 bilhões. O Brasil manteve-se quase imóvel no ranking dos maiores exportadores aos EUA, caindo da 17ª posição em 2022 para a 18ª neste ano.

O Brasil foi ultrapassado neste ano por Cingapura, que aumentou seus embarques aos americanos de US$ 18,36 bilhões no ano passado para US$ 23,29 bilhões em 2023, sempre nos primeiros sete meses, pelos dados americanos.

Lia Valls, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), lembra que a exportação brasileira aos EUA já foi mais representativa. A partir do início dos anos 2000, diz, os embarques brasileiros foram atingidos pelo deslocamento resultante da expansão da exportação chinesa. “Nesse realocamento atual das cadeias globais por enquanto somos ainda uma esperança.”

Os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic) mostram também pequeno recuo das exportações brasileiras aos EUA neste ano. De janeiro a agosto o Brasil embarcou US$ 23,64 bilhões aos americanos, 3,5% a menos que os US$ 24,48 bilhões vendidos em iguais meses de 2022. O embarque brasileiro total recuou 0,1% na mesma comparação. O valor exportado este ano supera em 19,1% os US$ 19,85 bilhões embarcados em 2019, período pré-pandemia de covid-19. O aumento de exportação, porém, ficou abaixo da taxa de crescimento dos embarques totais brasileiros, que subiram 52,8%. Com isso, a fatia dos EUA na exportação brasileira caiu de 13,5% para 10,5% nesse período de quatro anos, sempre de janeiro a agosto.

Os principais produtos brasileiros vendidos atualmente aos americanos são produtos manufaturados de ferro e aço não ligado, petróleo bruto e escavadeiras, entre outros equipamentos destinados à construção. Esses três itens equivalem atualmente a 27,4% do que o Brasil vende aos EUA.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que o quadro reflete o longo processo de enfraquecimento da exportação brasileira de manufaturados nas exportações brasileiras. Com falta de competitividade e financiamento, a indústria brasileira tem dificuldade de abrir novos mercados. “Temos visto a banda passar sem fazer nada.”

Em nota, o CEO da Amcham, Abrão Neto, destaca que os EUA são o maior destino para exportações de mais alto valor agregado e são destino de 50% das exportações brasileiras de mais alta tecnologia. Na verdade, diz, as exportações de bens industriais do Brasil aos Estados Unidos têm crescido, inclusive em 2023, acima da média das exportações industriais para o mundo, segundo dados elaborados pela entidade.

No primeiro semestre de 2023, diz Abrão Neto, a receita brasileira de exportação de itens industriais aos americanos foi recorde e somou US$ 14,5 bilhões, US$ 552 milhões a mais do que no primeiro semestre de 2022. “Esse é um indicador de que há crescimento, que pode ser potencializado com novas iniciativas bilaterais em temas como fortalecimento de cadeias de suprimentos, energias renováveis, hidrogênio verde, eólica, biocombustíveis.” Esse setor, destaca, foi o segundo maior em investimento dos EUA no Brasil em 2022. O Brasil, avalia, pode ser beneficiado pelo movimento americano de “nearhsoring”, a depender do setor e também da aproximação entre os países. “Há oportunidades também em minerais críticos e em todo complexo de saúde.”

O Brasil, diz Abrão Neto, ampliou seu acordo recentemente com EUA em facilitação de comércio e boas práticas regulatórias, o que tem trazido bons resultados. “É difícil pensar em um acordo de livre-comércio no curto prazo, mas há espaço para ampliar o ATEC [acordo de cooperação econômica] entre Brasil e Estados Unidos em mais temas como economia digital, convergência regulatória entre setores, entre outros.”

Os Estados Unidos, ressalta o CEO, têm feito acordos específicos em cadeias de suprimentos em vários setores e não apenas com a América do Norte, mas também com Europa, Japão, Índia, Coreia do Sul, entre outros. “Portanto, esse é um tipo de acordo que a Amcham entende que Brasil e Estados Unidos devem perseguir, pois mapeiam oportunidades e instrumentos para o chamado friendshoring, ou seja, podem de fato trazer mais comércio Brasil-EUA.”

Fonte: Valor Econômico

Para ler a matéria completa, acesse: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2023/09/13/brasil-deixa-de-ocupar-espaco-da-china-nos-eua.ghtml

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