EU-Mercosur agreement / acordo UE-Mercosul
Regras de Comércio

União Europeia descarta rever acordo com Mercosul

nov, 01, 2022 Postado porSylvia Schandert

Semana202244

A União Europeia (UE) já deu, na última segunda-feira, sinalização contrária a pretensão de Luiz Inácio Lula da Silva sobre mudanças no acordo com o Mercosul, um dia depois da eleição para presidente do Brasil.

No sábado, na véspera da votação do segundo turno, o jornal “Le Monde”, de Paris, publicou um artigo de Lula no qual o presidente eleito afirmou que “a melhora dos termos do acordo Mercosul-União Europeia nos permitirá aumentar nossas trocas comerciais, aprofundar os lanços de confiança e reforçar a defesa de nossos valores comuns”.

No discurso da vitória, na noite de domingo, 30, Lula avisou que quer “retomar as relações com os EUA e a União Europeia em novas bases”. E que não lhe interessava acordos comerciais que condenam o Brasil a ser um eterno fornecedor de commodities.

Indagada pelo Valor, a UE respondeu  com um claro não à ideia de Lula e que o foco deveria agora ser trabalhar para a implementação do entendimento negociado.

A porta-voz de comércio, Mirian Ferrer, afirmou: “Acreditamos que o acordo negociado com o Mercosul é muito benéfico para ambas as partes e que proporcionará uma estrutura para o fortalecimento da cooperação política e setorial, do comércio e do desenvolvimento sustentável”.

Ela acrescentou: “Aguardamos ansiosamente o engajamento com as autoridades brasileiras, bem como com os demais países do Mercosul, para levar o processo em andamento a uma conclusão bem-sucedida [do acordo]. Estamos notadamente buscando fortalecer nossa cooperação em sustentabilidade e desmatamento através de um instrumento adicional”.

A ideia de Lula, que significa eventualmente reabrir o acordo comercial, já tinha sido mencionado por ele durante uma viagem à Europa antes da campanha eleitoral. O presidente eleito acha que o Brasil deveria obter mais concessões, por exemplo na área industrial, e não se limitar a ganhos leves na agricultura, segundo fontes.

Mas em Bruxelas a posição europeia é de que nada muda. E “em princípio” não deveria mudar, reiterou fonte do bloco comunitário. Os europeus continuam a falar em enviar ao Mercosul uma demanda de compromisso adicional contra o desmatamento até o fim do ano. Esse documento europeu está ainda na cozinha da Comissão Europeia e não circulou ainda nem entre os 27 Estados-membros, segundo fontes em Bruxelas.

Reabrir o acordo Mercosul-UE depois de negociações complicadas ao longo de 20 anos com interrupções significa continuar atrasando uma melhora nas condições do comércio bilateral para as empresas dos dois lados, em meio a um cenário geopolítico particularmente tenso.

Mercosul e UE continuam trabalhando tecnicamente no acordo birregional, fechando temas como de indicação geográfica recentemente. Ninguém espera que avance qualquer coisa proximamente, inclusive porque a equipe de transição do presidente eleito terá outras prioridades.

Em Bruxelas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em recente discurso no Parlamento Europeu, nem sequer mencionou o Mercosul quando tratou de acordos comerciais. Mencionou a reatualização dos acordos com México e Chile, mas esses dois tampouco vão sair tão cedo.

Em setores do governo de Jair Bolsonaro, a avaliação é que o setor privado brasileiro não tem pedido para reabrir o que já foi negociado com a Europa. E que quem quer rever o entendimento é na verdade o presidente da Argentina, Alberto Fernández, consciente da fragilidade de sua economia.

Também há um sentimento em Brasília de que os europeus erraram ao não terem fechado logo o acordo com o Mercosul e em não terem acelerado a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A avaliação é de que governos europeus, para atender alguns segmentos da população, exigindo mais ênfase em meio ambiente, antagonizaram demasiado a relação particularmente com o Brasil. E agora as empresas europeias que querem investir mais na região não têm as vantagens que poderiam ter pelo acordo birregional, por exemplo.

Fonte: Valor Econômico

Para ler o artigo original completo, acesse: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/11/01/uniao-europeia-descarta-rever-acordo-com-mercosul.ghtml

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